Reportagem especial exibida pelo programa Domingo Espetacular, da TV Record, trouxe alerta para os riscos da realização de tratamentos estéticos por profissionais não médicos. Levada ao ar na noite do dia 14 de junho, a matéria apresenta pacientes que se submeteram à chamada harmonização facial e hoje buscam reverter os efeitos colaterais e danos provocados por procedimentos malfeitos. “Para muita gente, o que era solução se torna um problema gravíssimo”, sintetizou o apresentador ao anunciar o início do vídeo.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) teve participação importante no que foi exibido. O presidente da entidade, Sergio Palma, destacou a importância de se “conhecer as complicações e saber tratá-las de forma adequada nas primeiras horas, dias”. Foi ele o responsável por informar aos jornalistas sobre o trabalho que a SBD tem feito junto ao Judiciário para barrar os abusos praticados. Entre 2017 e 2019, a entidade registrou 1.034 contra pessoas que praticam atos desse tipo, lesivos à população.
Um dos casos citados pelo Domingo Espetacular foi o de Rafaela Cavalcanti, uma dentista pernambucana, que há um ano realizou procedimento no nariz em uma clínica odontológica no seu estado. Ela não queria passar por cirurgia e decidiu se submeter a uma rinomodelação com o uso de ácido hialurônico, conforme mostrou a emissora. Essa escolha foi o início de uma sucessão de erros que deixou sequelas visíveis em seu rosto.
Promessas – O procedimento foi realizado por alunos de especialização em uma clínica odontológica da cidade do Recife e trouxe complicações diversas à paciente. “Com a promessa de conquistar o nariz perfeito, sem cirurgia, ela fez o procedimento e saiu do consultório com o rosto deformado”, informou a reportagem. Especialistas ouvidos relatam que o atendimento inadequado gerou sofrimento vascular grave e necrose no nariz de Rafaela.
Na reportagem especial, foram debatidos os problemas e riscos inerentes à realização de procedimentos estéticos invasivos por não médicos, destacando-se o repúdio da SBD a esse tipo de prática. A entidade, em conjunto com o Conselho Federal de Medicina (CFM), já pediu no Judiciário a suspensão do ato administrativo do Conselho Federal de Odontologia (CFO) que ao arrepio da lei autoriza dentistas a realizarem essa prática.
De acordo com a SBD, apenas os médicos possuem outorga legal para realização de procedimentos invasivos, inclusive estéticos. A entidade alega que as normas editadas pelo CFO não contam com amparo de lei específica, devendo, por isso, serem revogadas. O processo, que corre na Justiça Federal, aguarda julgamento de pedido de liminar.
Impasse – Porém, mais do que um impasse jurídico, a prática indevida de procedimentos estéticos tem trazido inúmeros transtornos pessoais, como alertou a SBD, na reportagem. São dramas que mudam vidas por completo. Sofrimento vascular e deformações, como as relatadas pela reportagem, estão entre as complicações mais comuns e podem trazer danos irreversíveis aos pacientes. Além disso, procedimentos mal executados podem levar a intoxicações, reações alérgicas, cegueira e até à ocorrência de acidente vascular cerebral (AVC).
“A população deve ficar em alerta. A chamada harmonização facial, realizada sem a necessária especialização médica, pode causar problemas sem solução. Por isso, a pessoa que pretende fazer algum procedimento corretivo deve procurar a ajuda de um médico especialista, que tomará as providências para que tudo ocorra com menor risco possível”, ressaltou Sérgio Palma, presidente da SBD.
A reportagem foi ao ar um dia após reunião dos presidentes de Regionais com a Diretoria da Gestão 2019-2020 da SBD. No encontro, as ações contra abusos praticados por outras categorias profissionais foram detalhadas. Sergio Palma detalhou o andamento de 13 processos em tramitação no Judiciário contra conselhos de classe, como os de Odontologia e Biomedicina, e lembrou do trabalho que a entidade tem feito junto aos políticos, órgãos de vigilância sanitária, ministério público e área de comunicação sobre esse tema.
“Como a SBD tem reiterado, o acesso à informação é fundamental para esclarecer a população sobre os problemas que podem surgir após algo apresentado pelos não médicos como simples e de baixo risco. Só que não é bem assim”, concluiu.
Fonte: SBD