Com o crescente interesse da população pela prática esportiva, é cada vez mais frequente o questionamento, por parte de nossos pacientes, sobre os cuidados com a exposição ao sol. Em termos de saúde, é de fato recomendável que todos tenham uma atividade esportiva rotineira, mas devemos considerar que, ao fazê-la ao ar livre, haverá um considerável aumento de exposição à radiação solar. Como devemos, então, orientar os nossos pacientes?

A primeira sugestão que recomendo é a escolha do horário da atividade. Certamente se evitarmos um horário entre 10h e 15h estaremos reduzindo em muito a incidência de UVB e também de UVA. Só isso, entretanto, não basta, já que sabemos que mesmo fora desse intervalo existe carga de radiação suficiente para causar danos solares agudos e crônicos; portanto, outras ações de fotoproteção devem ser tomadas.

O uso de roupas e chapéus, a meu ver, é o passo seguinte. A depender do tipo de atividade esportiva, a escolha adequada de vestimenta e da cobertura do segmento cefálico é estratégica e deve fazer parte da atuação do dermatologista. Devemos optar por roupas que tenham FPU elevado (se possível 50+) e, caso necessário, que tenham tecido com trama mais fechada e cor mais escura.

A escolha do chapéu também depende do tipo da atividade esportiva, mas, de maneira geral, devemos sugerir o uso de chapéus de aba circular e de tamanho grande o suficiente para garantir a cobertura da face e da nuca. O tipo de tecido também é determinante, optando-se quando possível por tecidos mais espessos.

O terceiro passo, mas não menos importante, é a introdução rotineira do uso de protetores solares. Esse é um item que normalmente não é bem recebido por uma parcela dos pacientes, especialmente os de uso facial, pela queixa de irritação nos olhos. Para minimizar esse incômodo, podemos recomendar o uso de protetores com maior substantividade, ou seja, mais espessos, como cremes ou eventualmente bastões (sticks) na área periorbital. 

Atualmente muitos fotoprotetores para o uso em atividades esportivas (sport) já são desenvolvidos considerando a escolha de ingredientes e veículos adequados para reduzir essa queixa.

Quanto à escolha do FPS, devemos lembrar que a atividade esportiva, por si só, propicia intensa exposição ao sol ao mesmo tempo que, pela sudorese, reduz a efetividade do produto. Além disso, dependendo do tipo de atividade, a reaplicação do protetor solar no prazo recomendado poderá ser comprometida. Por esses fatores, recomendo a prescrição de protetores com alto FPS (acima de 50), pois com isso o paciente inicia a exposição solar com elevada proteção, aceitando-se perda parcial do efeito durante o período da atividade.

A proteção UVA deverá ser proporcional, com FP-UVA (PPD) em pelo menos um terço do valor do FPS e comprimento de onda crítico acima de 370nm, conforme estabelece normativa da Anvisa. Item essencial na escolha do protetor solar é a resistência à água, que remete também à resistência ao suor. Só devem ser recomendados protetores que tenham resistência à água ou muita resistência à água.

A aplicação do fotoprotetor, como sempre, é peçachave e deverá ser orientada para a aplicação de camada bastante generosa (se possível utilizar a regra da colher de chá) e, quando viável, a reaplicação a cada duas ou três horas.

Um último item que pode ser recomendado pelo dermatologista é o uso do fotoprotetores orais, que podem complementar os efeitos do protetor solar tópico e minimizar o dano causado pela radiação solar incidente.

Produtos que contenham carotenoides, probióticos ou extrato de polypodium leucotomos são os mais comumente orientados nessas situações. Finalizando, podemos dizer que a interface da dermatologia
com o esporte será cada vez maior e, nessa área, a fotoproteção é o tema mais relevante, devendo o dermatologista oferecer a seu paciente (e até a nós mesmos) a melhor orientação para que a saúde do organismo como um todo e a da pele em particular caminhem juntas.

 

Jornal da SBD Ano 18 n.1 pg15