A classe médica vem crescendo de maneira exponencial nas últimas décadas, em especial na dermatologia. De acordo com a Pesquisa Demográfica Médica no Brasil, realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2015, a dermatologia ocupa o 12o lugar em número de médicos especialistas, com 6.883 dermatologistas, com idade média de 45 anos. Como andam, porém, as diversas possibilidades de inserção desses médicos no mercado de trabalho?


Cerca de 70% dos médicos que trabalham em consultórios já possuem carreira consolidada. Segundo dados do CFM, 75% mantêm vínculos com convênios. Nesse caso, o
médico recebe um valor predeterminado pela empresa pelo atendimento de pacientes credenciados a ela, com a vantagem de garantir uma clientela, evitando prejuízos pela falta de pacientes.“Notamos que o atendimento diminuiu um pouco, mas não acredito que o motivo seja apenas a atuação de não médicos na nossa especialidade. Infelizmente, com a crise atual, muitas pessoas têm perdido plano de saúde e/ou estão com a renda menor”, afirma a dermatologista carioca Juliany Lima, de 33 anos.

As maiores desvantagens da associação de médico e convênio residem no fato de que o profissional fica subordinado aos interesses da empresa, tais como tabelamentos dos valores de consulta e exigências burocráticas. Como consequência, há um nivelamento dos profissionais e diminuição da autonomia médica. “Além de ficarmos reféns dos honorários, os pacientes ficam mais vinculados ao convênio do que ao próprio médico, se o médico sai do convênios muitos pacientes mudam de médico”, considera Juliany.

Por ser segmento com médicos mais experientes, a faixa etária de médicos que não atendem pacientes de planos de saúde tende ser mais elevada; é também um recorte
reduzido e privilegiado da profissão; o médico proprietário é aquele que exerce tanto a função de empregador quanto a de trabalhador. O fato de quase 80% dos médicos empresários, ainda segundo o CFM, terem menos de 50 anos permite concluir que se trata de fenômeno relativamente atual. A continuidade ao empreendimento familiar também é observada, e cerca de 50% desses empresários possuem pais ou parentes médicos.


Formada em medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com residência em medicina interna e dermatologia, ambas no HCPA, a dermatologista Fátima Sertório, ressalta que há espaço para quem queira trabalhar, porém, o profissional precisa ser especialista dentro da área em que atua. “Já estou no mercado desde 1998 e devo dizer que não sinto interferência na minha prática por não médicos, pois o perfil de paciente que opta pelo meu trabalho não o faria com não especialistas e não médicos. Tenho muito cuidado em manter uma linha ética de trabalho, fazendo questão de distinguir o meu diferencial como médica. Por exemplo, não faço procedimentos
estéticos sem avaliação inicial extremamente rigorosa. 

O paciente passa por questionário clínico que inclui as doenças que apresenta, medicamentos que usa. Além disso, ele recebe um planejamento de tratamento que inclui os cuidados que fará em casa e os procedimentos complementares que pode fazer. Claramente o que percebemos é o maior número de complicações dos procedimentos feitos por não médicos, porque, além das complicações previsíveis que eles não sabem tratar, há ainda as complicações advindas de má prática”, salienta.


CRISE E CUSTOS
A crise só não se agravou até os dias atuais porque a classe médica também vem atuando de forma multiempregatícia. A atividade de docência é um dos setores compreendidos nesse vínculo multiempregatício. Cerca de 16% dos médicos indicam ter dedicação parcial à medicina, entre elas a docência. Carlos Bruno Fernandes Lima, professor de medicina na maior instituição de ensino privada do Norte-Nordeste, a Universidade Potiguar, onde ministra aulas de dermatologia pediátrica, dermatologia básica e medicina geral – que engloba discussão de casos em medicina interna, bioética, direito médico –, afirma que “a crise afetou quem terminou a residência médica nessa década pela defasagem do valor das consultas, baixa remuneração na saúde suplementar e consequente dificuldade financeira da população. Isso termina em vínculos em múltiplos empregos, o que sobrecarrega o dia a dia e traz sérios danos na qualidade de vida”.

Segundo os entrevistados, entre os itens que afetam mais as despesas de consultório, estão os custos com funcionários e gastos com materiais cirúrgicos.
 

Fonte: Jornal da SBD – Vol21 N3 – Fátima Sertório e Juliany Lima