Algumas condições dermatológicas podem ser responsáveis pela exclusão de atletas de competições esportivas. O risco inerente de contágio leva, a partir de sua detecção e enquanto apresentar lesões ativas, ao afastamento do indivíduo de esportes coletivos, em especial aqueles em que ocorra contato físico estreito, como as lutas.

Abordaremos sucintamente as enfermidades de ocorrência mais frequente: 
HERPES SIMPLES E HERPES DO GLADIADOR: ambos são causados pelo herpes simplex vírus. No herpes simples, as lesões localizam-se com frequência nos lábios, áreas próximas do rosto, bem como genitália e arredores, por meio de vesículas confl uentes em placa edemaciada, ou não, cicatrizando em dias, com dor e ardência variáveis. A apresentação clínica denominada herpes do gladiador caracteriza-se por lesões em áreas menos comuns, como braços e pernas, com vesículas raras ou em arranjos bizarros, ou ainda como placa erosada ou eczematizada, em geral em lutadores e outros atletas. Nos esportes de contato, o atleta deverá ser liberado somente na fase cicatricial, apenas com crostas e idealmente após resolução completa. Alguns autores têm sugerido o uso profilático de antivirais (aciclovir, famciclovir e valaciclovir) em lutadores nos períodos de treinamento intensivo.

TINHA DO GLADIADOR: entre as micoses superfi ciais, as dermatofitoses são muito comuns no ser humano, em especial nas virilhas e nos pés. Embora possam prejudicar o desempenho de atletas nessas localizações, o vestuário dificulta o contágio. O uso da expressão tinha do gladiador decorre do fato de as lesões serem comumente encontradas em atletas quase sempre participantes de luta reco-romana. Ao contrário da apresentação típica na pele glabra, como lesões anulares, centrífugas, com bordo róseo e prurido variável, a tinha do gladiador apresenta-se por meio de placas escamativas e mal delimitadas, às vezes eczematizadas. 

Pelo aspecto pouco característico, esses indivíduos podem ser tratados repetidamente com corticoides tópicos, sem sucesso e eventual agravamento. Tem sido proposto que atletas com lesões por fungos, em áreas expostas, devam ser afastados de esportes de contato até resolução do quadro. De modo semelhante às infecções por herpes vírus, esquemas profiláticos foram propostos com ntifúngicos orais (terbinafina, intraconazol, fluconazol) em situações especiais.

ESCABIOSE E PEDICULOSE: essas infestações disseminamse facilmente no contato corpo a corpo, assumindo dimensões ‘epidêmicas’ nas ‘concentrações’. As manifestações pruriginosas podem levar a irritabilidade, com possíveis baixas de concentração e rendimento.

IMPETIGO: causado por germes estafilococos e estreptococos, é de fácil contágio. Recomenda-se o imediato afastamento do atleta.

VERRUGA VULGAR E MOLUSCO CONTAGIOSO: em lutas e esportes com intenso contato físico, lesões em áreas expostas podem ser disseminadas. As verrugas causam incômodo para o manuseio de equipamento desportivo, bem como em áreas de pressão, como as plantas. O molusco contagioso nos adultos jovens pode estar relacionado com atividade sexual e ser indicador de promiscuidade, motivando a pesquisa de outras DSTs.

DOENÇAS EXANTEMÁTICAS: o aspecto difuso facilita o diagnóstico sindrômico, mas a multiplicidade de infecções e a dificuldade de diferenciação com quadro alérgico podem exigir exames complementares nem sempre disponíveis. Sugere-se a exclusão do atleta até seu completo restabelecimento.

Não é possível aprofundar essas recomendações para cada atividade desportiva. A avaliação médica deve ser norteada pelo bom-senso, entendendo que, quanto maiores o contato necessário para a prática desportiva e o risco de disseminação do quadro para outros atletas, maior a necessidade de desclassificação do acometido. Deve ser enfatizado que a postura não é punitiva, mas visa resguardar a integridade física de uma coletividade.

 

Fonte: Jornal da SBD – Ano 17 n.4